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Observação dos padrões de lateralidade de Judocas como elementos do Estrategismo Esportivo

Cada vez mais a lateralidade tem sido um elemento importante para a observação de adversários em lutas de Judô. Há uma preocupação comum de que o atleta que utiliza o video-scouting (análise da luta) faça uma análise crítica do seu adversário. O olhar e a percepção de luta do atleta em relação ao seu oponente não pode se fixar somente em elementos do senso comum de não especialistas do esporte, como torcedores e fãs da modalidade. Alguns detalhes sãoimportantes para que se tenha uma leitura crítica do outro e do próprio atleta.

Exemplo disso é a lateralidade, um elemento coordenativo do ponto de vista das capacidades físicas, sobre o qual ainda há uma indefinição clara do potencial de combinação genética para esta definição motora.  Por parte dos geneticistas há discussões sobre poder existir uma maior tendência de pais canhotos terem filhos canhotos, mas ainda é uma questão em estudo. A lateralidade é dominada pelo cérebro. Os movimentos da parte direta do corpo são estimulados pelo hemisfério cerebral esquerdo e vice-versa. Muita gente acredita que a definição da lateralidade está indicada pelo lado que o sujeito desenvolve a grafia. A escrita é uma ação que trabalha a motricidade fina dos membros superiores e pode ser treinada para o lado não dominante. Porém a lateralidade é definida não somente pela questão da opção de mão para escrita, mas pelo conjunto do lado em que o sujeito tem suas preferências motoras. O primeiro sinal indicativo da formação da lateralidade surge por volta dos três anos de idade, podendo variar de acordo com a estimulação a que a criança é submetida – fatores ambientais, e também pelo componente genético.

A primeira manifestação da lateralidade é a preferência de apreensão manual. Contudo, o lado que apresenta o início da marcha (caminhada ou engatinhada), o lado que a criança escolhe para executar o movimento natural de trepar (escalar) móveis ou  brinquedos em parques, e o lado que busca, por exemplo, para chutar uma bola são indicadores que facilitam a sinalização nas primeiras etapas de desenvolvimento motor. De fato a dominância lateral se desenvolverá somente a partir do momento em que ocorre uma combinação de movimentos e estes, assim, adotam um padrão de organização motora por intencionalidade. Pode-se dizer que o processo de definição da lateralidade ocorre por intermédio de experimentações dos movimentos simples e complexos vivenciados na infância e que ao longo do crescimento e desenvolvimento se aprimoram. Contudo, percebe-se que deve ocorrer uma aprendizagem bilateral de movimentos, ou seja, para os dois lados deve se testar tudo o que é ensinado(para o lado predominante e também para o não-dominante),  mas há uma tendência lógica de que o lado de preferência seja o que apresente uma melhor performance motora de movimentos complexos. Entendemos como elementos simples e naturais o ato de engatinhar, andar, nadar, saltar, etc; e movimentos complexos, por exemplo, a realização de um o-soto-gari, tai-otoshi, yoko-gake, entre outras técnicas específicas do esporte.

Do ponto de vista da lateralidade temos os padrões esquerdo (canhoto), direito (destro), esquerdo e direito (ambidestro), e cruzado (perna esquerda com mão direita ou mão esquerda com perna direita). No Judô, do ponto de vista do Estrategismo, é fundamental essa identificação para repassar ao técnico que dialogará com o atleta na observação dos vídeos. A realização deste diagnóstico motor é desenvolvido a partir da base, do descolamento e do kumi-kata (pegada) para se perceber também para que lado o adversário realiza uma técnica de ataque, defesa ou contragolpe. Esta análise deve ser realizada tanto na luta em pé quanto na luta de solo para se ter um perfil do atleta observado.

Saber identificar qual é o padrão de lateralidade facilita a leitura da luta e o diálogo com o técnico também por parte do atleta. Muitas vezes, o adversário tem uma base (membros inferiores) de direita, uma pegada (kumi-kata) de destro, caminha com mais frequência para a direita e entra golpes para a esquerda. Fragmentar a lateralidade é importante no primeiro momento de leitura da luta, mas entender como estas partes se conectam é fundamental para se construir uma tática e/ou estratégia a respeito de um todo. Reconhecer os dados dos adversários é algo muito importante, mas o atleta brasileiro precisa também se conhecer para saber: qual é o seu lado de predominância; para que lado entra suas técnicas mais fortes; para que lado se torna mais vulnerável; entre outros indicadores que podem ser observados a partir da lateralidade. Na hora de realizar o video-scouting, o atleta deve preconizar assistir a  vídeos de seus adversários lutando com pessoas que possuem um padrão de lateralidade similar ao seu para que, justamente, possa se transferir da condição de mero observador para a posição de competidor e assim iniciar a criação do seu mapa tático de possibilidades de ataque rumo à vitória.


Para citar parte deste artigo ou na íntegra, utilize a seguinte referência respeitando o direito autoral:
MATARUNA, Leonardo. Observação dos padrões de lateralidade de Judocas como elementos do Estrategismo Esportivo. Blog do Estrategismo. Publicado em 29 de Outubro de 2013. Rio de Janeiro: CBJ, 2013.  

Realidade aumentada, Smart Glasses e o Estrategismo no esporte: passos para o futuro.

Você já pensou em olhar para um adversário e os seus óculos lhe apresentarem os dados, características e detalhes a respeito do comportamento motor do seu próximo oponente? Isso é muito possível de acontecer nos próximos 10 anos. Existem hardwares como os óculos de rastreamento ou smart glasses (Ex. Google Glass®) que prometem passar informações utilizando o processo de realidade aumentada unindo um sistema óptico e um banco de dados ligado à rede mundial de computadores (ver: http://www.youtube.com/watch?v=DiTnMJZF2UY / http://www.youtube.com/watch?v=v1uyQZNg2vE ). Claro que existe, neste tipo de mecanismo, a necessidade de um Estrategista alimentar um largo banco de dados com as características de performance esportivas, cineantropométricas, dados de resultados dos atletas, além de continuar o processo de gravação e preparação das imagens para oferecer ferramentas visuais com o intuito de fornecer conhecimento ao atleta. A tecnologia do smart glass permite, por meio de comandos de voz ou mesmo por meio de poucos toques em uma área sensível na lateral direita do dispositivo, uma navegação entre diferentes aplicativos e realizar tarefas com facilidades que telefones e tablets também fazem, mas deixando as mãos livres. Aqui não estamos trabalhando com questões de adivinhar o futuro, mas sim buscando interfaces com a metodologia prospectiva (análise estrutural, Brainstorming, análise do avanço tecnológico, gestão do conhecimento, adaptação para a performance esportiva, busca pelo resultado e aprimoramento técnico por meio da ciência). Buscamos utilizar elementos atuais e avanços tecnológicos para desenhar cenários hipotéticos a respeito da cronologia, do espaço e dos possíveis avanços em um intervalo de 10 anos.

A Realidade Aumentada utiliza  pesquisas avançadas que incluem o uso de rastreamento de dados em movimento, reconhecimento de marcadores confiáveis utilizando mecanismos de visão, e a construção de ambientes controlados contendo qualquer número de sensores (ver: http://www.youtube.com/watch?v=Y6BWLOhiVT8). A Realidade Aumentada vista como “sistema” pode ser compreendida como ferramenta com possibilidades de combinar elementos virtuais com o ambiente real; interatividade e processamento em tempo real; e pode ser concebida em três dimensões. Isso quer dizer que, por exemplo, no senso geográfico ao olhar uma paisagem e ver uma planta, com auxilio de uma câmera (celular ou óculos translúcido), é possível ter informações sobre o nome, família, origem, localização espacial deste objeto, onde pode ser comprado, entre outros detalhes que podem ser oferecidos por esta interatividade. A partir da utilização de um banco de dados, isso também poderá ser feito com o esporte, no sentido de olhar para uma pessoa e ter detalhes, por exemplo: no caso do judô - categoria de peso, número de vitórias e derrotas (desmembrado com atletas canhotos, destros, ambidestros, altos, baixos, etc); lateralidade; estilo de luta (ataca, defende, contra-ataca); técnicas que mais projeta e mais cai; entre muitas outras informações que dependerão de um especialista que faça leituras de lutas e alimente o banco de dados para que, então, tanto o técnico como o atleta possam seguir obtendo um número significativo e seletivo de detalhes de acordo com os seus interesses.

Apesar desta percepção parecer meio futurista, os primeiros estudos de realidade virtual surgiram por volta de 1975 e a cada avanço tecnológico tem se tornado bem presente na vida dos indivíduos que a cada minuto passam a interagir mais com a tecnologia da realidade aumentada. Uma outra possibilidade que talvez requeira mais tempo e programadores é justamente utilizar estas informações textuais, numéricas ou gráficas para a uma projeção holográfica dos movimentos executados pelo adversário (ver: http://www.youtube.com/watch?v=sNDBoOw9PX0). Isto poderia ser aplicado para treinamentos visuais, mentais, táticos e estratégicos com base na dinâmica de movimento a ser projetada e na avaliação do processo de tomada de decisão pelo atleta, o que forneceria para técnicos, psicólogos e estrategistas uma nova leitura do atleta que acompanha este mecanismo de tendência e treinamento. Trago o exemplo de um canal de televisão que mostra um pouco deste mecanismo de realidade aumentada que já começou a ser utilizado por emissoras brasileiras, inclusive para a Copa do Mundo de Futebol 2014 (http://www.youtube.com/watch?v=KYvyRmicof4 / http://www.youtube.com/watch?v=JkucH2rY9Wk). Os mecanismos e informações complementares de realidade aumentada e smart glass podem ser encontradas aqui, onde se comparam diferentes protótipos: http://www.youtube.com/watch?v=DiTnMJZF2UY.  Confira os detalhes que mesclam o real e o aumentado através deste link: http://www.youtube.com/watch?v=Kr50QMaUFNA.

Com a utilização do smart glass, o atleta também pode realizar alguns treinamentos e gravar seus movimentos (ver caso do basquetebol: http://www.youtube.com/watch?v=SJ3LKBkxMZE). Para os técnicos pode ser uma nova ferramenta para perceber onde se concentra o olhar do atleta antes, durante e após a realização de um movimento. Unindo equipamentos exteriores (câmeras de análises) e câmera complementar no caso do smart glass, vista também como uma forma de exoesqueleto, as informações adquiridas a partir de um movimento passam a ter uma nova perspectiva, que poderá se configurar como uma possibilidade de avaliação utilizando novas funções de realidade ampliada.

Vale destacar que, apesar das grandes contribuições que as novas tecnologias trazem diariamente ao processo de preparação dos atletas, estas ferramentas não substituem de forma alguma o treinamento corpo a corpo e as orientações e inferências diretas dos técnicos. São elementos importantes que podem complementar os processos de treinamento, incorporando as tendências do novo tempo, do século XXI, às tradicionais formas de treinamento utilizadas nos esportes.

Para citar parte deste artigo ou na íntegra, utilize a seguinte referência respeitando o direito autoral: MATARUNA, Leonardo. Realidade aumentada, Smart Glasses e o Estrategismo no esporte: passos para o futuro. Blog do Estrategismo. Publicado em 26 de Novembro de 2013. Rio de Janeiro: CBJ, 2013

Usando a Regra ao Seu Favor Judô

Usar a regra a seu favor

No.futebol é  comum usar a expressão “jogou com a regra debaixo do braço” para explicar uma atuação em que o time preferiu abdicar do ataque ou de correr risco por poder avançar de fase numa competição com  um empate. E o que vimos no último Mundial Sênior, disputado em Astana, a bela capital do Cazaquistão, foi que muitos judocas estão jogando com a regra debaixo do braço. Muitas lutas foram decididas na diferença de punições o que, no meu ponto de vista, contraria a ideia original da Federação Internacional de Judô de valorizar o chamado “judô positivo”, que prioriza as entradas de golpes e as projeções.

Bem, neste sentido é que reforço a importância de conhecer as regras para um melhor aproveitamento nos resultados das competições. Alguns dos resultados negativos de atletas dos mais diversos países poderiam ser diferentes caso os mesmos tivessem um conhecimento melhor da regra. Devo abrir um parêntese para dizer que esta falta de conhecimento da regra não está só no atleta, mas também nos técnicos, professores e até em alguns narradores e comentaristas de televisão.

E quando digo conhecer a regra não é apenas pegar o livro de regras e decorá-lo. Afinal, toda regra de arbitragem de qualquer esporte é sempre muito difícil de ser interpretada e a regra do Judô não poderia ser diferente. Existe sempre uma diferença, mesmo que pequena, entre o que está escrito de maneira fria na regra e como ela é aplicada. Portanto, é preciso acompanhar as competições internacionais, entender como os árbitros estão se comportando e usar esse comportamento a seu favor. A observação também é uma forma de estudo.

Autor: Professor José Pereira, 8º Dan, gestor nacional de arbitragem
Judô no Brasil!
Estamos evoluindo Muito! 

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